quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

BIOLOGIA - PROFº ELIOMAR

CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS VÍRUS

Os vírus são seres simples, constituídos por uma cápsula protéica, o capsídeo, envolvendo o material genético, que pode ser o DNA ou o RNA, variando de acordo com cada tipo de vírus. Característica esta, exclusiva dos vírus, já que em todos os outros seres vivos existem os dois ácidos nucléicos.

São considerados seres vivos por apresentarem três características essenciais:

• Formam-se de ácidos nucléicos e proteínas;
• Possuem capacidade de auto-reprodução;
• São suscetíveis a mutações.

Os vírus são visíveis apenas ao microscópio eletrônico, e medem entre 10 a 300 nanômetros.

O vírus só apresentam atividade vital quando estão no interior de células vivas, nas quais podem se reproduzir, utilizando-se do material genético das mesmas, uma vez que não possui equipamento para metabolizar.

Alguns vírus possuem um envelope lipoprotéico oriundo da membrana plasmática da célula hospedeira, são designados envelopados.

Os bacteriófagos são vírus que acometem bactérias, reproduzindo-se em seu interior. Os mais estudados são os que infectam a bactéria intestinal Escherichia coli, conhecidos como fagos T.

Os ciclos reprodutivos são basicamente dois: o ciclo lítico e o ciclo lisogênico. O ciclo lítico é o ciclo em que a célula é destruída, os vírus que o provocam, líticos ou virulentos. Quando a célula é preservada, o ciclo é lisogênico e os vírus são chamados temperados ou não-virulentos. A alteração do ciclo lisogênico em lítico recebe o nome de indução.

Os viróides são agentes infecciosos mais simples que o vírus, são constituídos por uma única molécula de RNA e não possuem cápsula protéica.

TIPOS DE DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS

A maioria das viroses ocorre na infância e são de cura espontânea. As principais são:
Gripe e resfriado comum
- Embora causados por vírus diferentes, seus sintomas são semelhantes: coriza, obstrução nasal, tosse e espirro; a febre geralmente só aparece nos casos de gripe. Ambas as doenças são transmitidas por gotículas eliminadas pelas vias respiratórias. Recomenda-se apenas repouso, boa alimentação, ingestão de uma grande quantidade de líquidos e se necessário, antitérmicos e descongestionantes. Se os sintomas persistirem, por mais de uma semana é necessário consultar um médico.
Sarampo, catapora, rubéola e caxumba
- Estas doenças também são transmitidas por saliva, gotículas eliminadas pela tosse por exemplo, atacando geralmente crianças. O doente deve ficar de cama, em isolamento e receber boa alimentação. Deve ficar também sob orientação médica, para ser atendido prontamente no caso de infecções bacterianas. A rubéola é perigosa quando contraída por mulheres grávidas, pois o vírus pode provocar anomalias no embrião (catarata, surdo - mudez e doenças cardíacas, entre outras).
Poliomielite
- Embora na maioria das pessoas essa virose cause apenas febre, mal estar, em alguns indivíduos, ela pode atacar o sistema nervoso, provocando paralisia. Uma vez instalada a doença, não há um procedimento específico para curá-la , sendo feito apenas um tratamento fisioterápico nos casos em que ocorre a paralisia, visando melhorar a condição muscular. Assim sendo, para evitar tal doença, é muito importante que os pais vacinem os seus filhos na época recomendada pelo médico.
Febre Amarela
- É causada por um vírus transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, provocando febre, vômito e lesões no fígado. A profilaxia é feita através do combate ao mosquito e da vacinação.
Raiva ou hidrofilia
- Essa doença, quase sempre fatal, ataca o sistema nervoso. É transmitida por animais domésticos, principalmente o cão, sendo por isso obrigatória a vacinação eo recolhimento dos animais soltos na rua. Quando uma pessoa é mordida por qualquer animal, deve lavar várias vezes o local da ferida com água e sabão e aplicar um desinfetante. Se houver suspeita que o animal está raivoso, procurar urgentemente o hospital mais próximo o soro e vacina anti-rábicos. Deve-se também exigir que o proprietário apresente o atestado de vacinação do animal.
Hepatite a Vírus
- É uma inflamação do fígado que pode ser causada também por outros parasitas ou substâncias químicas. A transmissão ocorre por água e alimento contaminados, principalmente quando há falta de instalações sanitárias adequadas, por transfusões de sangue contaminados, por seringas e agulhas de injeção mal esterilizadas. A evolução costuma ser benigna, mas a presença do médico é necessária e o doente deve ficar isolado, em repouso com boa alimentação.
Dengue
Também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Os principais sintomas são: febre alta durante 3 dias, dores no corpo e nos olhos, cansaço e falta de apetite, podendo haver também erupções na pele semelhante ao sarampo.

A dengue não tem tratamento específico, o doente deve ficar de reouso, ingerir muitos líquidos e tomar medicamentos para a dor e febre (que não contenham Ácido Acetil Salicílico) A prevenção é a mesma para a febre amarela.

Quem já teve dengue, mesmo que de forma assintomática, ou é portador de doenças crônicas, como diabete, a artrite reumatóide ou o lupus, está sujeito a contrair a Dengue Hemorrágica, Ela é causado por outro vírus e começa como a dengue porém depois que a fase febril acaba, os sintomas se agravam, ocorrendo queda da pressão arterial, hemorragias na pele, intestino e gengivas, ocorre o aumento do tamanho do fígado. Caso não haja assistência médica, a doença pode levar o paciente à morte em 10% dos casos
AIDS
- A síndrome da imunodeficiência adquirida é causada pelo vírus HIV ou vírus da imunodeficiência humana, que ataca células do sistema imunológico, responsável pelo reconhecimento e combate dos agentes estranhos (bactérias, vírus, etc.) que invadem o organismo. A principal célula atacada é o linfócito T4.
 
Devido a deficiência do sistema imunológico, os aidéticos, estão sujeitos a infecções por germes chamados oportunistas, que não causam problemas à pessoas com saúde normal. Além disso, são mais propensos a desenvolver alguns tipos raros de câncer como o sarcoma de Kaposi. Essas infecções terminam por debilitar a saúde do paciente e até mesmo levá-lo a morte.

Ainda não há cura ou vacina para a AIDS. Nem todas as pessoas que contraem o vírus HIV, desenvolvem a doença, ela pode aparecer de forma assintomática. Contudo, o portador assintomático pode transmitir a doença para outras pessoas através do contato por sangue, sêmen ou secreções vaginais. Isso ocorre pelo ato sexual, pela recepção de sangue contaminado, pelo uso de seringas ou agulhas contaminadas, de mãe para filho durante a vida uterina ou na hora do parto, ou ainda por transplante de órgãos.

Para evitar o contágio, deve se usar a camisinha, não utilizar seringas ou agulhas não esterilizadas e, se precisar de sangue ou fatores do plasma, certifique-se que procede de bancos de sangue que fazem o teste da AIDS. O grupo de risco inclui: heterosexuais, homossexuais, bissexuais, usuários de drogas injetáveis e pessoas que necessitam de transfusões de sangue ou fatores do plasma, como os hemofílicos.
Contágio da Aids , medicamentos contra AIDS, sintomas da AIDS, formas de prevenção, tratamento, o vírus HIV, o desenvolvimento de vacinas contra Aids.

Introdução : sabendo mais sobre Aids e HIV
A sigla Aids significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. O vírus  da Aids é conhecido como HIV e encontra-se no sangue, no esperma, na secreção vaginal e no leite materno das pessoas infectadas pelo vírus. Objetos contaminados pelas substâncias citadas, também podem transmitir o HIV, caso haja contato direto com o sangue de uma pessoa.
Após o contágio, a doença pode demorar até 10 anos para se manifestar. Por isso, a pessoa pode ter o vírus HIV em seu corpo, mas ainda não ter Aids. Ao desenvolver a Aids, o HIV começa um processo de destruição dos glóbulos brancos do organismo da pessoa doente. Como esses glóbulos brancos fazem parte do sistema imunológico ( de defesa ) dos seres humanos, sem eles, o doente fica desprotegido e várias doenças oportunistas podem aparecer e complicar a saúde da pessoa. A pessoa portadora do vírus HIV, mesmo não tendo desenvolvido a doença, pode transmiti-la. 
Formas de Contágio
A Aids é transmitida de diversas formas. Como o vírus está presente no esperma, secreções vaginais, leite materno e no sangue, todas as formas de contato com estas substâncias podem gerar um contágio. As principais formas detectadas até hoje são : transfusão de sangue, relações sexuais sem preservativo, compartilhamento de seringas ou objetos cortantes que possuam resíduos de sangue. A Aids também pode ser transmitida da mão para o filho durante a gestação ou amamentação.
Principais Sintomas da Aids
Como já dissemos, um portador do vírus da Aids pode ficar até 10 anos sem desenvolver a doença e apresentar seus principais sintomas. Isso acontece, pois o HIV fica "adormecido" e controlado pelo sistema imunológico do indivíduo. Quando o sistema imunológico começa ser atacado pelo vírus de forma mais intensa, começam a surgir os primeiros sintomas. Os principais são: febre alta, diarréia constante, crescimento dos gânglios linfáticos, perda de peso e erupções na pele. Quando a resistência começa a cair ainda mais, várias doenças oportunistas começam a aparecer: pneumonia, alguns tipos de câncer, problemas neurológicos, perda de memória, dificuldades de coordenação motora, sarcoma de Kaposi (tipo de câncer que causa lesões na pele, intestino e estômago). Caso não tratadas de forma rápida e correta, estas doenças podem levar o soropositivo a morte rapidamente.
Formas de Prevenção
A prevenção é feita evitando-se todas as formas de contágio citadas acima. Com relação a transmissão via contato sexual, a maneira mais indicada é a utilização correta de preservativos durante as relações sexuais. Atualmente, existem dois tipos de preservativos, também conhecidos como camisinhas : a masculina e a feminina. Outra maneira é a utilização de agulhas e seringas descartáveis em todos os procedimentos médicos. Instrumentos cortantes, que entram em contato com o sangue, devem ser esterilizados de forma correta antes do seu uso. Nas transfusões de sangue, deve haver um rigoroso sistema de testes para detectar a presença do HIV, para que este não passe de uma pessoa contaminada para uma saudável.
Tratamento
Infelizmente a medicina ainda não encontrou a cura para a Aids. O que temos hoje são medicamentos que fazem o controle do vírus na pessoa com a doença. Estes medicamentos melhoram a qualidade de vida do paciente, aumentando a sobrevida. O medicamento mais utilizado atualmente é o AZT ( zidovudina ) que é um bloqueador de transcriptase reversa. A principal função do AZT é impedir a reprodução do vírus da Aids ainda em sua fase inicial. Outros medicamentos usados no tratamento da Aids são : DDI ( didanosina ), DDC ( zalcitabina ), 3TC ( lamividina ) e D4T ( estavudina ). Embora eficientes no controle do vírus, estes medicamentos provocam efeitos colaterais significativos nos rins, fígado e sistema imunológico dos pacientes.
Cientistas do mundo todo estão trabalhando no desenvolvimento de uma vacina contra a Aids. Porém, existe uma grande dificuldade, pois o HIV possui uma capacidade de mutação muito grande, dificultando o trabalho dos cientistas no desenvolvimento de vacinas.
Você sabia?
- Dia 1 de dezembro comemora-se o Dia Mundial de Luta contra a Aids.
 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CULTURA DE IPUEIRAS (PROFESSORA ILVANA)


Cultura

           Os principais eventos culturais são a festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, e a festa do Ipueiras Junina.
           Também uma grande frente de cultura é a Banda de Música Joaquim Catunda Sobrinho, que emociona todos os Ipueirenses em suas apresentações. A BANDA Instituída pela Lei nº 541/2002, em 27 de agosto de 2002, a Banda de Música Municipal Joaquim Catunda Sobrinho é a maior frente cultural do Município de Ipueiras, se destacando através de sua atuação nos mais diversos eventos do Município.
          Inicialmente foi regida pelo Maestro Lázaro Freire, passando então pelo renomado Maestro Jorge Antonio Martins Nobre e atualmente sob a batuta do Maestro Diógenes Catunda, conta com 26 músicos e 01 arquivista. A Banda de Música Municipal é o resgate de um sonho inacabado de Zé Viana, Manoel Sertanejo, Expedito e Joaquim Catunda e muitos outros precursores das primeiras bandas das décadas de 20 e de 30. É a 5ª Banda do município, e teve a sua denominação em homenagem a um dos músicos integrantes da 4ª Banda de Música que existiu, no ano de 1970, doada pelo então Deputado Estadual Aquiles Peres Mota.
           É uma entidade sem fins lucrativos e um patrimônio cultural município, que tem do atual Raimundo Melo Sampaio uma atenção especial, principalmente no tocante a maior profissionalização dos seus integrantes, que, na grande maioria, são jovens oriundos de famílias carentes e na faixa etária de 10 a 21 anos que recebem apoio do Município através de uma bolsa mensal, a título de incentivo cultural. Cadastrada junto à FUNARTE com o apoio da SECULT-CE, tem participado de vários eventos locais e regionais, tais como: 1ª Mostra de Banda dos Inhamuns, no Núcleo de Arte e Cultura – Nova Russas; Projeto Pra ver a Banda passar, do Centro Cultural Dragão do Mar – Fortaleza, além de participação em solenidades oficiais, datas cívicas, festas populares e religiosas, interpretando hinos, marchas, dobrados, música popular brasileira e peças eruditas, adaptadas a nossa banda que emociona e conquista o público.
           No ano de 2005, foi realizado o “Projeto Retreta de Fim de Tarde” tendo feito 21 apresentações nos bairros da cidade e sede de distrito, levando a música instrumental, às populações mais carentes, o que vem fazendo com que o povo de Ipueiras tenha mais qualidade de vida. Afinal, a alegria é todos nós.
COMPONENTES:
FLAUTAS: Geferson
CLARINETAS: Diego Leôncio Soares, Cauê Oliveira Pereira, Fco. Gleidson C. Moreira, Fca. Greicyara C. Melo, José Everton da Silva,
SAXOFONES: Fco. Roberto P. Nascimento, Fco. Danilo de Oliveira, José Everton da Silva, Alexandre Lopes, Luiz Nascimento da Silva, Antonio Cleudir,
TROMPETES: Fco. Kallyson de S. Fontenele, Antonio Carlos Paulino, Anto. Jefferson de S. Gomes, Pedro Henrique Masceno,
BOMBARDINO: César Ferreira de Paiva,
TROMBONES: Yan Carlos Matos Madeiro, Washington Ferreira de Paiva, Pedro Francisco da Silva,
TROMPAS/HORNS: Francisco Rafael Leitão Alves, Pedro Henrique do Nascimento,
BAIXO: José Idalmir Moreira Filho,
PERCUSSÃO: Dinho Mendes Araújo, Adeilton, Regina Ferreira, Rafael Melo
CARNAVAL DE IPUEIRAS
O CARNAVAL DE iPUEIRAS

 

 

                                   

Bloco Abababados – 1989

            Ipueiras sempre se destacou entre as cidades da zona norte do Estado, ao pé da Ibiapaba, como uma cidade carnavalesca desde as décadas de 30 e 40 do século passado, e manteve esta tradição fortalecendo-se a medida que a cidade crescia chegando ao seu apogeu no século XX precisamente na década de 80. 
            Foram nos anos oitenta que se viu surgir pela primeira vez na sede do município blocos. Fenômeno que repetiu-se em diversos anos seguidos sempre no carnaval, criando uma rivalidade sadia e competindo animadamente entre si. 
       Entre os mais destacados estavam : Mama na Égua, Tosse Braba, Olha nós Aí, Abababados e o Sisigura.

 

Bloco Sisigura - 1997

               Os cinco blocos citados já não mais existem, mas deixaram uma grata lembrança dos últimos carnavais do século passado em Ipueiras. Sendo que alguns dos que deles fizeram parte já se foram, e outros já não moram mais no município.
               Competiam todos juntos em desfiles pelas ruas e à noite no clube da cidade.
               O bloco Mama na Égua tinha como principal destaque o porta-bandeira já falecido Moacir Fontenele, figura que para os ipueirenses era a alma do carnaval da cidade, fazendo parte dele outro grande carnavalesco de muito valor José Gerardo, o Dadá.
                As vestimentas eram de seda com cores diversas e bem desenhadas. Cada bloco tinha seus trajes típicos e concorriam no clube da cidade pelo troféu de bloco vencedor.
                Com o passar dos tempos os blocos deram lugar ao carnaval de pequenos grupos e é este o que prevalece atualmente na cidade tendo como característica o rápido deslocamento que fazem de uma festa para outra. Já que o carnaval em Ipueiras não se realiza mais em um só salão.
                Outra característica inovadora é que muitos ipueirenses se deslocam para o carnaval de cidades vizinhas não se restringindo somente ao do município.
                 O tempo passou mas o carnaval de Ipueiras continua sendo uma festa para seus habitantes, antes só restrito aos clubes e à cidade, agora não só na cidade mas levando grupos que animam e enriquecem o carnaval das cidades irmãs


FESTAS JUNINAS PARA JEAN KLEBER
Em junho chegava o período das fogueiras, das festas de Santo Antônio, São João e finalmente São Pedro.
Delas a que mais brilhava era a de São João, também a mais conhecida e cantada.
           Isso narro não para o tempo presente, mas como a montar da memória retalhos. É de Ipueiras, ainda um garoto, ao ver do alto do morro do Cristo a cidade à noite, cheia de fogueiras que mais pareciam pontos fortes de luz oscilantes a variar entre o amarelo e o vermelho, das ruas amplas às ruelas até findar-se nos braços alongados aonde a cidade ia por fim acabar-se.
           Havia lá as quadrilhas, as quermesses, com sorteios para o benefício da paróquia e finalmente a devoção aos santos de cada festa.
           Balões riscavam o céu da pequena cidade, uns a pender quase caindo, mas por fim subindo, outros já em queda final e outros a subir até a vista finalmente apagar.
           Cada santo tinha uma ligação com o viver e o necessitar humano. Pobres padroeiros, responsáveis por tantas preces, e ainda hoje há de se atestar quantas estão por atender.
            Assim havia nas quadrilhas os casamentos matutos, os lances hilários do padre e finalmente, na dança os “anarriês” e “alevantous”, resquícios das típicas danças nobres francesas, perdidas da raiz e, incorporadas a uma tradição que de tão rica por si se bastava.
          Salões cheios de comidas. Aluás, bolos de milho, cocadas, pés-de-moleque, batata doce, quentão e jerimuns assados.

         As festas juninas evoluíram, não acabaram e quiçá nem hão de findar-se, mas no interior em muitas cidades pequenas, ao atento observador, há de perceber ainda traços arcaicos destas festas folclóricas, já não mais presentes nas realizadas em grandes centros.
            Expressão maior da alegria da alma nordestina, pois na região inteira faz-se forte a tradição, segue sob o grande luar e o céu estrelado a troca de pares na dança em que cavalheiros de chapéu de palha e damas de longos vestidos de chita fazem num ritual da dança a quadrilha junina, e ao dançarem nas noites que saúdam os santos, e repetir a cada ano no mesmo mês tais festas, levam-nos a concluir que, muitas coisas mudam, mas as essenciais permanecem, nelas o espírito junino do nordeste, fruto da alegria que este povo aprendeu a criar e ao mesmo tempo lançar no ato de tudo à comemorar.
               
        Proposta de atividade
01- Leia o texto e faça um comentário sobre a cultura de nossa cidade.
02-Faça um comparativo do carnaval dos anos 80 e o atual. 
03- Pelo texto de Jean Kleber, você pode perceber que as festas juninas de Ipueiras estão mudadas. Redija um texto relatando essas mudanças.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

VARIEDADES LINGUÍSTICAS (PROFESSORA HELAINE)

Língua padrão e variedades lingüísticas: calos na vida do professor de português
Angela Paiva Dionisio l[1]
 
Dois grandes desafios dos professores e dos manuais de língua portuguesa, na atualidade, parecem ser como definir a língua padrão brasileira e como tratar a variação lingüística (VL).  Não se pretende neste trabalho atestar pioneirismo, mas sim tomando por base as pesquisas científicas (só para mencionar alguns Perini, 1995, Geraldi, 1996, Travaglia, 1996; Marcuschi, 1997, Preti, 1997; 1998; Possenti, 1997, 1998; Bagno, 1997, 1999, Leite, 1999) verificar se a mídia e a escola estão falando a mesma língua, uma vez que a norma da mídia vem se impondo, alterando a concepção de norma vinculada à literatura clássica.  O corpus é formado por 10 artigos extraídos de revistas de circulação nacional (Veja, Época, Meio e Mensagem, Educação, SuperInteressante e Bundas) e por seis coleções destinadas aos 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental e recomendadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)[i], Dentre os princípios e critérios estabelecidos pelo PNLD para análise dos livros didáticos de língua portuguesa se encontra a "diversidade de variedades e registros lingüísticos".
1. As "línguas portuguesas brasileiras" na visão da mídia, da universidade e do governo.
Preti (1998), na conferência intitulada "A linguagem verbal da mídia e o ensino de português", afirma que (i) a modernização dos jornais com variedade de seções e, consequentemente, leitores com interesses distintos em relação aos fatos e à linguagem que os veicula e (ii) a necessidade da televisão de "uma comunicação imediata e eficiente" com a audiência estão refletidas na linguagem empregada por repórteres, redatores, apresentadores de programa, personagens de novelas. Segundo Preti, "a imprensa é o melhor termômetro das variações lingüísticas, da incorporação de certos usos, da sua elevação à condição de norma lingüística da comunidade." Se se fizer uma pesquisa em alguns veículos da imprensa brasileira nos últimos anos, perceber-se-á claramente que a língua portuguesa tem recebido um certo destaque, conforme se pode comprovar com a citação de algumas manchetes:
a)      Nossa língua renasce
Os brasileiros estão tratando melhor o idioma que neste ano deu o Nobel ao escritor português José Saramago (Época, 14 de dezembro de 1998).
b)      Herrar é umano. Ezajerar e burrise
Uso incorreto da língua portuguesa na propaganda gera debate
(Meio e Mensagem, 17 de novembro de 1997).
c)      Errar é divino
Por que os escritores podem deixar a gramática de lado, ao contrário dos mortais comuns  (Veja, 21 de abril 1999).
d)      PORTUGUÊS, língua estrangeira
(Educação, maio de 1999).
e)      Nobre como Camões
População rural e iletrada mantém português medieval falada pelos colonizadores (Veja, 5 de maio de 1999).
f)       Professor caga-regra
(Bundas, Julho de 1999).
g)      Erro de Português não existe
(Educação, julho de 1999).
h)      O fim do português
(Veja, abril de 2000).
i)       Falamos a língua de Cabral?
(SuperInteressante, abril de 2000.
j)       Mau sinal: a corrupção chegou à linguagem
(Época, abril de 2000).
 
Numa análise superficial destas manchetes, pode-se constatar que há perspectivas diferenciadas no tratamento da língua que se usa no Brasil.  Há pelo menos duas visões contrastantes: a daqueles para quem a língua portuguesa está sendo massacrada e exterminada e a daqueles para quem as mudanças ocorridas na língua portuguesa falada e escrita no Brasil resultam de fenômenos lingüísticos naturais e peculiares a qualquer língua viva. Para ilustrar estas posturas, vejamos a opinião do presidente da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier, e a opinião do professor e pesquisador da língua portuguesa, Ataliba de Castilho.  Para Niskier, "a classe dita culta mostra-se displicente em relação à língua nacional, e a indigência vocabular tomou conta da juventude e dos não tão jovens assim, quase como se aqueles se orgulhassem de sua própria ignorância e estes quisessem voltar atrás no tempo."(1998:6).  Castilho assegura que "a questão da defesa da língua é uma falsa questão, uma vez que ninguém estaria atacando a língua portuguesa.  O prestígio e a capacidade de expansão de uma língua seriam resultado não de estratégias de defesa, mas do prestígio e do poder de expansão da nação que a fala e da cultura associada a ela." (Educação, maio/99:36).
Preti (1997:17) afirma que havia uma expectativa de se encontrar nas gravações do Projeto da Norma Urbana Lingüística Culta do Brasil (Projeto NURC) a presença de uma linguagem culta, ou seja, aquela marcada pelas regras da gramática normativa, visto que os informantes do referido projeto tinham formação universitária.  Porém, logo nas análises iniciais, os resultados foram "inesperados e até contraditórios", pois apesar das situações de interação serem gravações conscientes, monitoradas por um documentador, "os inquéritos acabaram revelando um discurso que se identificava, na maioria das vezes, com o do falante urbano comum."  Para o autor, o grau de escolaridade ajuda mas não é suficiente para identificar o discurso do falante culto, pois "se pretendêssemos encontrar um discurso que revelasse marcas mais constantes e uniformes do nível de escolaridade do falante culto, isto é, seu grau universitário, só poderíamos surpreendê-lo em situações formais, tensas, como, de certa forma, acontece com as elocuções formais gravadas pelo Projeto."  Leite (1999:242) esclarece que "o purismo é um fenômeno lingüístico e como tal existe e se manifesta em todas as épocas.  Podemos dizer que ele é um efeito da natureza funcional da linguagem.  (...) no começo do século, as polêmicas lingüísticas revelam ter vigorado naquela fase a certeza de que a língua portuguesa devia ficar fixada no período clássico, tido como o de maior esplendor e beleza".  Em seu estudo, Leite (1999:243) configura as fases do purismo lingüístico no Brasil, destacando as posições de Monteiro Lobato e Mário de Andrade, entre outros, e assegura que "há hoje um fluxo inovador, representado pela atualização da língua padrão adequada ao uso brasileiro, e um refluxo conservador, representado pela resistência a alguns desses usos.  Pratica-se, desse modo, um purismo heterodoxo".
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998:82), considerando a variação como um traço constitutivo das línguas humanas, reconhecem que no Brasil "quando se fala em 'Língua Portuguesa' está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades."  Destacam também que "em um mesmo espaço social convivem mescladas diferentes variedades lingüísticas, geralmente associadas a diferentes valores sociais". Marcuschi (1997:52) chama atenção para o fato de que “não temos uma noção muito clara do que seja lidar com a variação intercultural, interpessoal. (...) A variação intriga e instaura diferenças que quando não bem-entendidas podem gerar discriminação e preconceito”.  Reconhecer a existência da variação é conceber “a língua como heterogênea e não monolítica e homogênea”.
Além das reportagens veiculadas na mídia, jornais, revistas e programas de televisão brasileiros reforçam o julgamento das variedades lingüísticas existentes em nosso país, ao apresentarem seções que pretendem ensinar "o certo e o errado".  Os brasileiros, falantes nativos da língua portuguesa, são vítimas diárias de mais um tipo de preconceito: o lingüístico.  Bagno (1999) enumera oito mitos do preconceito lingüístico: (1) a língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente, (2) brasileiro não sabe português/só em Portugal se fala bem português, (3) Português é muito difícil, (4) as pessoas sem instrução falam tudo errado, (5) o lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão, (6) O certo é falar assim porque se escreve assim, (7) é preciso saber gramática para falar e escrever bem e (8) o domínio da norma culta é instrumento de ascensão social.  A perpetuação desses mitos é atribuída pelo autor a "um círculo vicioso" formado pela gramática tradicional, pela prática de ensino e pela indústria do livro didático.
O Ministério da Educação, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998:31), reconhece as variedades lingüísticas existentes no Brasil e o preconceito "decorrente do valor atribuído às variedades padrão e ao estigma associado às variedades não-padrão, consideradas inferiores ou erradas pela gramática".  Essas diferenças não são imediatamente reconhecidas e, quando são, são objeto de avaliação negativa.  O referido documento alerta ainda para o fato de que "frente aos fenômenos da variação, não basta somente uma mudança de atitudes; a escola precisa cuidar para que não se reproduza em seu espaço a discriminação lingüística. (...) E não apenas por uma questão metodológica: é enorme a gama de variação e, em função dos usos e das mesclas constantes, não é tarefa simples dizer qual é a forma padrão (efetivamente, os padrões também são variados e dependem das situações de uso). Além disso, os padrões próprios da tradição escrita não são os mesmos que os padrões de uso oral, ainda que haja situações de fala orientadas pela escrita" (PCN,1998:82).  Uma das coleções analisadas, apesar de afirmar que "as línguas não são imutáveis, pois sofrem alterações" e que "as línguas também não são uniformes; refletem as diferenças entre os grupos de falantes e as diversas situações em que a fala ou a escrita ocorrem"(C3), propõe uma atividade em que o fragmento de texto utilizado evidencia uma atitude preconceituosa dos personagens (os demais alunos e a própria professora) em relação ao aluno que fala numa variedade diferente da que a professora usava, sem tecer nenhum comentário sobre os risos dos alunos ou sobre os berros da professora.  Mencionar a existência das variedades lingüísticas não é sinônimo de respeitá-las.
(C3) [ii]
5. Rodrigo veio do sítio para a escola doidinho para aprender e descobrir os segredos que havia no encontro das letras. Leio o diálogo dele com a professora.
— Rodrigo, trouxe os exercícios da semana passada? Perguntou ela, cumprindo a promessa de cobrar.
—Eu truce, mas o di onti eu num consegui...
            Nem acabou a frase e dona Marisa berrou:
— Repita: eu trouxe, mas o de ontem não consegui.
            Rodrigo repetiu certinho, mas tremendo, vermelho e gaguejando. A sala morria de rir. Rodrigo queria morrer, sumir, virar inseto e voar.
      E por que não conseguiu? — perguntou dona Marisa, furiosa.
      Tive uns problema e num tinha mi insinassi.
Elias José. Uma escola assim eu quero para mim. São Paulo, FTD, 1993.
Agora responda.
a) A língua reflete as diferenças entre os grupos de falantes. Por que Rodrigo fala diferente da professora?
Resposta do Manual do Professor:  Pessoal.
b) Você acha que Rodrigo deve aprender a falar e a escrever na linguagem culta? Por quê?
Resposta do Manual do Professor:  Pessoal.
Outro aspecto negativo é a inadequação do conceito de língua que norteia a coleção: "a língua é o principal instrumento de comunicação entre as pessoas de uma sociedade e deve ser usada com desembaraço, prazer e segurança.  Só conseguiremos isso com a prática da leitura e da escrita." (p.33).  Como ficariam, por exemplo, os analfabetos se essa concepção de língua fosse verdadeira?
2. As variedades lingüísticas nos manuais de ensino:
De acordo com a análise realizada, as variedades lingüísticas mais focalizadas são, preferencialmente, as diatópicas, de região para região, as diastráticas, de um grupo social para outro e as diacrônicas, de uma época para outra.  Quanto às formas que norteiam o estudo das variedades lingüísticas em nossos livros didáticos de língua portuguesa percebe-se que (i) aborda-se as variações em unidades específicas do LD, geralmente, ao apresentar a noção de língua e (ii) aborda-se o mecanismo das variações com questões mínimas inseridas na abordagem textual.  Três das coleções analisadas (C1, C2, C3), de editoras diferentes, reservam os dois capítulos iniciais destinado a 1ª série do 3° ciclo (antiga 5ª série), respectivamente, aos assuntos comunicação e língua.  E é justamente ao apresentar o conceito de língua que se insere o tópico variedade lingüística.  Outra coleção (C4), na 6ª unidade do volume dedicado à última série do 4° ciclo (antiga 8ª série), intitulada Brasilidade, apresenta um estudo (breve) sobre Regionalismo.  As C5 e C6 focalizam a VL em exercícios relacionados com os textos utilizados, na seção destinada à compreensão, solicitando atividades de (i) identificação de expressões da língua não-padrão e/ou da classe social a quem pertencem os personagens que falam no texto e (ii) reescritura de expressões ou de fragmentos textuais.
A formulação de conceitos se processa mediante, basicamente, duas propostas de atividades, que são (i) a apresentação de um texto sobre VL acompanhado por perguntas de compreensão e (ii) na utilização de um texto com VL, seguido por perguntas de compreensão e de identificação e reescritura de VL.  Para ilustrar o primeiro caso, podemos mencionar o estudo sobre Regionalismo, pois há um fragmento (pequeno) do livro "A geografia lingüística no Brasil", de Silvia Figueiredo Brandão, ao qual se seguem as questões que podem ser classificadas em perguntas objetivas, aquelas que indagam sobre o conhecimento objetivamente inserido no texto numa atividade de mera decodificação (cf. perguntas de 1 a 4) e perguntas subjetivas, aquelas que têm a ver com o texto de maneira apenas superficial, ficando a resposta por conta do aluno (cf. perguntas 4 e 6).
(C4)
1.      Por que podemos afirmar que cada falante é ao mesmo tempo usuário e agente modificador de sua língua?
2.      O que é variedade lingüística?
3.      O que determina a variação lingüística?
4.      Por que, no Brasil, há grandes contrates na utilização da Língua Portuguesa?
5.      Qual a sua opinião sobre o preconceito lingüístico?
6.      Você acredita que as pessoas podem aprender mais, enriquecerem mais seu vocabulário se conversarem com outras que possuam a mesma escolha vocabular, as mesmas preferências, a mesma pronúncia e entonação ou se observarem falantes que utilizam a língua de maneira diferente?
 
            A segunda forma empregada para a construção do conteúdo consiste na utilização de um texto curto (ou fragmento de texto) em que haja uso de variedades lingüísticas, principalmente as dialetais, seguido de algumas questões:
(C1)
As variantes lingüísticas
Construindo o conceito
Leia esta tira, de Maurício de Souza:
(Texto do diálogo que está na tirinha)
      Toma um leite Zé Lelé?
      Pru que ocê tá rasgando a manga da camisa?
      Dizem qui tomá leite cum manga faiz mar!
1.      Nessa tira, Chico Bento conversa com seu amigo Zé Lelé. Observe que eles se comunicam fazendo uso de uma variante lingüística, ou seja, um tipo de português falado em certas regiões do país.
a)      Onde se fala esse tipo de variante lingüística: na zona rural ou nos centros urbanos?
Resposta do Manual do Professor: Ela é falada no interior de alguns Estados, no meio rural.
b)      Apesar disso, os brasileiros em geral são capazes de compreender essa conversa?
Resposta do Manual do Professor: Sim, as diferenças não chegam a impedir a compreensão.
2.      De acordo com a norma padrão, que aprendemos na escola, como deveríamos escrever as palavras e expressões "pru que", ocê", "tomá", "faiz mar"?
Resposta do Manual do Professor: por que, você, tomar, faz mal
            Quanto às coleções que partem da utilização de exercícios, parece haver uma tendência em recorrer a exercícios de gramática de uso, aqueles que solicitam a passagem de forma para outra, e a exercícios de gramática reflexiva, aqueles que solicitam a observação de características de cada variedade, como demonstra a atividade extraída da C6, na seção denominada Exploração (questões ou propostas que levam à leitura e compreensão do texto em profundidade e englobam conteúdo, estrutura e discurso).  Após um fragmento de Capitães de Areia, encontram as seguintes questões:
(C6)
1.      No texto, há um diálogo entre Pedro Bala e Dora. Pela linguagem das personagens, identifique a classe social a que pertencem e justifique.
2.      O texto registra um diálogo na linguagem coloquial. Dê exemplos que comprovem essa afirmação.
3.      Escolha um trecho do diálogo e reescreva-o em linguagem padrão ou culta.
Estes tipos de exercícios não são exclusivos das C5 e C6, ao contrário, estão presente, praticamente, em todas as coleções analisadas.  Um aspecto importante na formulação dos exercícios, quer de fixação quer de introdução do tema, reside na efetiva contribuição que as atividades podem oferecer ao aluno em relação à reflexão e à apreensão das variedades lingüísticas.  Tomemos para ilustrar apenas as atividades de reescritura.  Umas podem, realmente, fazer com que o aluno atente para "a condição de uso de formas que são esperadas e adequadas em diferentes tipos de situações que terminam por configurar em nossa sociedade (Travaglia, 1996:125), como por exemplo:
(C5)
Observe como o jornal Notícias Populares, em sua primeira página, fez a chamada para uma notícia sobre um acidente:
Três patetas dão vexame no trânsito
            O jornal Notícias Populares, como seu próprio nome indica, se destina a atingir um grande número de leitores. Para isso, alguns recursos são utilizados:
• manchetes chamativas;
• utilização farta de fotografias;
• sensacionalismo;
• utilização de uma linguagem simples e direta;
• exploração de fatos policiais e esportivos.
            O texto, no interior do jornal, pode exemplificar melhor as características da linguagem informal.
Três patetas enchem traseira de buso parado
            Três carros bateram na traseira de um buso da viação São Geraldo ontem de madrugada na Marginal Pinheiros.  O ônibus estava parado no canteiro central quando aconteceram as trombadas.
            A trapalhada começou quando Marcelo Zanini perdeu a direção de seu Escort e encheu o buso.  Em seguida, um Kadett tentou desviar e porrou. O último a bater foi um Monza.  Ninguém se feriu.
                                                                                              Notícias Populares... 18 ago. 1994
Exercícios
3.      Liste as gírias usadas no texto. Depois, explique o seu significado.
4.      Reescreva a notícia dirigindo-a a um outro tipo de leitor e usando uma linguagem mais formal.
Outras atividades, no entanto, revelam não só erros conceituais como inadequação metodológica.  O caso mais grave encontrado foi uma proposta em que não se respeita a relação existente entre VL e as características textuais, além de veicular informações erradas, como por exemplo, afirmar que não existe comunicação entre pessoas de classes sociais diferentes:
(C3)
1.      Leia a piada e responda às perguntas:
Aquele homem humilde, simples, sotaque caipira, foi eleito governador. Um dia, um desses políticos de palácio chega bem perto e surpreende o governador vendo televisão. Faz sua média:
— E aí governador, firme?
— Firme, não. Novela!
 
a)      Qual o código usado entre o político e o governador?
Resposta do Manual do Professor: A língua falada.
b)      Houve comunicação entre eles? Por quê?
Resposta do Manual do Professor: Não houve comunicação entre os dois porque, embora falem a mesma língua, pertencem a grupos sociais diferentes.
c)      Classifique a linguagem dos dois falantes.
Resposta do Manual do Professor: O político usa a linguagem culta, e o governador, a popular.
            Na piada acima, há sem dúvida o uso de variedade lingüística, tema tratado na unidade em que se encontra o exercício, mas não se pode descartar o gênero textual no processo de análise textual.  As piadas, como já afirmou Possenti (1998:25-26), são textos que envolvem temas socialmente controversos e que operam com estereótipos.  Na realidade, os exercícios acima propostos desconsideram a natureza textual da piada e orientam inadequadamente professores e alunos na leitura do texto ao afirmar que "não houve comunicação entre os dois porque, embora falem a mesma língua, pertencem a grupos sociais diferentes".  Na realidade, a piada exige que o leitor identifique dois sentidos para o termo "firme":  cumprimento informal e variante popular de "filme".  Não quero com isso negar a caracterização do governador como ignorante e caipira, nem negar o preconceito existente na piada, pois seria negar a piada em si.  Quero apenas chamar a atenção para a necessidade de se atrelar adequadamente nas propostas de atividades os domínios de linguagem aos gêneros e tipos textuais.  Foram registradas outras inadequações, embora mais "leves" do que a acima mencionada, porém não menos "ofensivas metodologicamente":
(C6)
Níveis de linguagem
1.      O convite é um texto de teatro e por isso apresenta muita linguagem coloquial.  Dê alguns exemplos desse tipo de linguagem.
2.      Escreva na linguagem padrão (culta) as seguintes expressões, mantendo o sentido que têm no texto.
"Deixe de ser boba..."
"Se é!'
"E pra quê?
'" Oi, minha velha.
"... né, vó, ...
 (C5)
No texto de cordel aparecem com freqüência marcas da linguagem oral.  Trata-se de uma linguagem informal, utilizada freqüentemente, mas que na forma escrita, em textos formais, deve ser de outro modo.
Reescreva os trechos abaixo, que estão em linguagem informal, em uma linguagem formal (padrão) apropriada para textos informativos e científicos.  Para isso, substitua, por exemplo, o verbo ter por haver ou existir; o verbo dar por superar; a palavra beiço por lábios.  Faça outras substituições necessárias para alcançar a formalidade na linguagem exigida pela norma culta na escrita.
a)      Em Natal já teve um negro chamado Preto Limão.
b)      Era um negro inteligente
Por toda parte que andava
Já dizia abertamente
Que nunca achou um cantor
Que lhe desse no repente.
c)      Da forma que vou deixar-te
Não vale a pena viver
Porque teus próprios amigos
Custarão te conhecer
]corto-te o beiço de cima
faço sorrir sem querer.
 
No primeiro caso, há um erro conceitual ao caracterizar o texto "O convite" como teatral por "apresentar muita linguagem coloquial". Não é o uso de linguagem coloquial que define o gênero textual.  As VL estão relacionadas com a fala dos personagens e com as situações de interações, quer sejam formais ou informais.  Já no segundo exemplo, a orientação dada (Reescreva os trechos abaixo, que estão em linguagem informal, em uma linguagem formal (padrão) apropriada para textos informativos e científicos) traz pelo menos dois problemas: um de erro conceitual, pois alterar a linguagem de informal para formal descaracteriza o gênero cordel e outro de inconsistência teórico-metodológica, pois o LD afirma, corretamente, que "no texto de cordel aparecem com freqüência marcas da linguagem oral" e, em seguida, solicita que sejam reescritos trechos do cordel, "em uma linguagem formal (padrão) apropriada para textos informativos e científicos."  Se o cordel não é um texto informativo ou científico por que solicitar tal atividade que não respeita as peculiares dos tipos e gêneros textuais?
O fato da reescritura abarcar exercícios da gramática de uso e da gramática reflexiva não lhe assegura a automatização das normas da língua padrão.  Retomemos três propostas de reescritura já mencionadas e observemos que tais atividades carecem de uma sistematização de usos da língua em funcionamento, ou seja, ao dizer no padrão, por exemplo, "Oi, minha velha" ou "né, vó?" não manteremos, provavelmente, o mesmo grau de intimidade demonstrado pelos personagens do texto original.  O emprego do verbo ter por haver ou existir, por exemplo, objeto de várias pesquisas, não possui mais obrigatoriedade de uso, pois se constatou que consiste apenas numa diferença nas variedades da língua portuguesa falada no Brasil (ter) e em Portugal (haver). Alguém poderia ainda alegar que exercícios do tipo solicitado em C1 auxiliaria a sanar problemas ortográficos.  Concordo, poderia e seria mais eficaz se ao invés da simples reescritura na norma padrão, fosse apresentada ao aluno uma situação em que ele pudesse confrontar as formas do padrão com as formas do não-padrão e chegar a formular as regras que norteiam as variedades da língua.
(C1)
3.      De acordo com a norma padrão, que aprendemos na escola, como deveríamos escrever as palavras e expressões "pru que", ocê", "tomá", "faiz mar"?
Resposta do Manual do Professor: por que, você, tomar, faz mal
(C5)
Para isso, substitua, por exemplo, o verbo ter por haver ou existir; o verbo dar por superar; a palavra beiço por lábios.
(C6)
2.      Escreva na linguagem padrão (culta) as seguintes expressões, mantendo o sentido que têm no texto.
"Deixe de ser boba..."
"Se é!'
"E pra quê?
'" Oi, minha velha.
"... né, vó, ...
 
            Em síntese, parece que os autores de manuais didáticas estão ainda "acertando o passo" no estudo das VL, pois há coleções que apresentam inconsistência nas propostas, como por exemplo a C5, que ao mesmo tempo em traz uma atividade como reescritura do jornal Notícias Populares, traz também esta de reescritura do Cordel..  Acreditamos que as pesquisas nas áreas da Sociolingüística e da Lingüística Textual serão de grande utilidade para aqueles que escrevem livros didáticos e que desejam romper com o ciclo vicioso mencionado por Bagno (1999).  É ainda este autor que nos alerta para a necessidade de uma mudança no ensino, sugerindo que devamos nos fazer as seguintes perguntas: "o que é ensinar português? Que objetivo pretendemos alcançar com nossa prática em sala de aula?" (Bagno, 1999:117).
Referências Bibliográficas:
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MARCUSCHI, L. A.  1996.  Exercícios de compreensão ou copiação nos manuais de ensino
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NISKIER, A . 1998. Na ponta da língua inculta e bela. Jornal da Fundação, jul.98, p.6, Marília.
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POSSENTI, S. 1996. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, ALB: Mercado
de Letras.
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PRETI, D. 1997. A propósito do conceito de discurso urbano oral culto: a língua e as
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TRAVAGLIA, L. C. 1996. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramáticas
no 1° e 2° graus. São Paulo, Cortez.
 


[1] Trabalho apresentado no Congresso Internacional “500 Anos da Língua Portuguesa no Brasil”, na Universidade de Évora, em maio de 2000.
 
[i] Coleções analisadas destinadas aos 3° e 4° ciclos:
C1. Cereja, W. & Magalhães, T. 1998. Português: linguagens. São Paulo:Atual.
C2. Nicola, J. & Infante, U. 1995. Palavras & Idéias. São Paulo:Scipione.
C3. Azevedo, D. 1996. Palavras e Criação: língua portuguesa. São Paulo: FTD.
C4. Bourgogne, C. & Silva, L. 1996. Interação e Transformação: língua portuguesa. São Paulo:Ed. do Brasil  S/A
C5. Tiepolo, E., Gregolin, R. & Medeiros, S. 1998. Linguagem e Interação. Curitiba:Módulo.
C6. Cócco, M. & Hailer, M. 1998. Análise, Linguagem e Pensamento. São Paulo: FTD.
[ii] A numeração dos exercícios correspondem a numeração original.

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